Presidente Lula, essa “Bet da Caixa” não cola. Pode até render manchetes e promessas de arrecadação, mas voto não dá, só tira. O brasileiro, cansado de escândalos e contradições, percebe rápido quando o discurso ético e a prática política não combinam. Apostar o prestígio de um banco público em jogos de azar é entregar munição gratuita à oposição e irritar a base moral e popular que sustenta o governo.
Enquanto o Planalto tenta impor moral ao vício com regras que impedem beneficiários do Bolsa Família e do BPC de apostarem, a Caixa, sob comando de Carlos Vieira, homem do Centrão, lança sua própria casa de apostas. É um contrassenso evidente. O governo se diz protetor dos vulneráveis, contudo, quer lucrar com o vício dos mesmos.
A pesquisa da Ativaweb mostra o estrago. Foram 891 mil menções em dois dias e 81,4% delas negativas. É uma rejeição que nem a sorte ajuda. A percepção pública é direta e cruel: o Estado quer jogar com o dinheiro do povo.
Carlos Vieira pode imaginar que o projeto é modernização financeira, porém, na prática é um gol contra político.
A “Bet da Caixa” é um símbolo perigoso. Transmite a imagem de um governo que diz combater o vício, todavia, participa do jogo. O povo entende o recado: o discurso moral é para uns, o lucro é para outros. E em política, presidente, quando a moral e o pragmatismo brigam em público, o eleitor muda de canal.
A sorte, neste caso, não está lançada. Está vazando.
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Ronaldo Nóbrega é jornalista e memorialista, com quase três décadas de atuação na imprensa e na análise institucional. Aos 16 anos, emancipou-se para ingressar no mercado de comunicação, iniciando sua trajetória no jornal A Hora, no Nordeste. Em Brasília, atuou como consulente no Tribunal Superior Eleitoral por 12 anos. Em 2005, teve papel de destaque na Consulta nº 1.185, que contestou a Regra da Verticalização e resultou na Emenda Constitucional nº 52/2006, marco que consolidou a autonomia partidária no Brasil.

