Ronaldo Nóbrega

Haidar ainda assombra Barcarena na rota da COP30

Ronaldo Nóbrega  -   26 de setembro de 2025

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O Brasil chega à véspera da COP30, em Belém, ainda às voltas com as consequências do naufrágio do navio Haidar, em outubro de 2015, no Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA). A embarcação carregava quase 5 mil bois vivos, 28 tripulantes e 700 toneladas de óleo quando afundou, deixando carcaças e resíduos que se espalharam até a capital paraense, a 60 km de distância.

Dez anos depois, a carcaça do navio segue submersa no berço de atracação 302, inutilizando parte da estrutura portuária. Segundo o Portal da Transparência, o governo federal já gastou R$ 12 milhões em contratos de reflutuação que não foram concluídos, de um total de R$ 44 milhões licitados.

Para marcar a data, o Ministério Público Federal, a Promotoria de Justiça de Barcarena, a ONG Mercy For Animals e a Comissão de Direito Animal da OAB-PA organizam nos dias 5 e 6 de outubro uma série de atividades em Belém e Barcarena. A agenda inclui uma manifestação na Praça da República e um seminário intitulado “10 anos depois: o naufrágio do navio Haidar”, com debates, exibição de documentário e participação da população local.

A exportação de bovinos vivos por via marítima, centralizada em Barcarena, responde por dois terços das operações brasileiras. O país é o maior exportador mundial da atividade, que já foi proibida em países como Índia e Nova Zelândia. Pesquisa Ipsos mostra que 84% dos brasileiros são contrários à prática, e estudo econômico aponta que o fim das exportações poderia gerar ganho de R$ 1,9 bilhão ao país.

Autoridades e organizações ambientais afirmam que a COP30 representa uma oportunidade para o Brasil não apenas discutir justiça climática e territorial, mas também buscar cooperação internacional. “Pedir ajuda de países como os Estados Unidos para localizar e remover os destroços do Haidar seria um gesto concreto e uma conquista simbólica para a conferência”, afirmou um ambientalista que pediu anonimato.

Dez anos após a tragédia, o naufrágio continua a expor fragilidades na gestão ambiental e portuária do Brasil, num momento em que o país tenta projetar liderança internacional em meio às negociações climáticas.

redacao@colunapolitica.com.br

Ronaldo Nóbrega é jornalista e memorialista, com quase três décadas de atuação na imprensa e na análise institucional. Aos 16 anos, emancipou-se para ingressar no mercado de comunicação, iniciando sua trajetória no jornal A Hora, no Nordeste. Em Brasília, atuou como consulente no Tribunal Superior Eleitoral por 12 anos. Em 2005, teve papel de destaque na Consulta nº 1.185, que contestou a Regra da Verticalização e resultou na Emenda Constitucional nº 52/2006, marco que consolidou a autonomia partidária no Brasil.

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