A Fundação Caixa nasceu sob aplausos burocráticos e vaias retumbantes. A Câmara aprovou (10.set.2025) o projeto que cria o novo braço social da Caixa Econômica Federal, supostamente para fomentar cultura, educação e esportes. O relator Luis Tibé jurou que se trata de um modelo mais ágil para entregar políticas públicas, mas a ágil esperteza não passa despercebida. O Brasil é especialista em reinventar a roda da caridade estatal travestida de eficiência privada.
Enquanto Erika Kokay e Pedro Uczai celebravam a “justiça social” da criatura, Kim Kataguiri berrou roubo institucionalizado e viu na fundação um orçamento secreto de gravata. Já Lafayette Andrada perguntou quem pagará a conta quando a brincadeira der prejuízo.
A fala mais precisa veio de Glauber Braga, sempre com sua lupa de desconfiado: se a fundação pode receber doações privadas, que garantia há de que o doador não tentará meter a mão na direção futura de políticas? Filantropia no Brasil tem cheiro de lobby perfumado.
Na prática estamos diante de mais um laboratório de poder, recursos públicos, flexibilidade privada, conselhos cheios de notáveis e a promessa de transparência digital. O Brasil já conhece esse roteiro, começa com auditoria independente e site recheado de relatórios, termina com manchetes sobre escândalos de boa fé.
A Fundação Caixa pode se tornar o Itaú Social da esperança ou o Banestado da vez. No país em que bancos sempre saem lucrando resta saber se a fundação servirá para reduzir desigualdades ou apenas para multiplicar conexões entre dinheiro e política. É essa a ironia de Glauber, quando o doador privado sentar à mesa, quem comerá o prato principal será a influência.
Esse episódio abre espaço para pensar o óbvio incômodo, o Brasil continua preso entre a promessa de modernidade institucional e o velho vício de transformar boas intenções em mais um balcão de interesses.
redacao@colunapolitica.com.br
Ronaldo Nóbrega é jornalista e memorialista, com quase três décadas de atuação na imprensa e na análise institucional. Aos 16 anos, emancipou-se para ingressar no mercado de comunicação, iniciando sua trajetória no jornal A Hora, no Nordeste. Em Brasília, atuou como consulente no Tribunal Superior Eleitoral por 12 anos. Em 2005, teve papel de destaque na Consulta nº 1.185, que contestou a Regra da Verticalização e resultou na Emenda Constitucional nº 52/2006, marco que consolidou a autonomia partidária no Brasil.