Há lugares onde o Brasil parece resistir ao tempo – e não no melhor sentido. No município de Bujari, no Acre, a suspensão das aulas na Escola Estadual Limoeiro e em seu anexo, ordenada pelo Ministério Público do Estado, é mais do que uma medida administrativa: é um retrato do abismo entre o discurso público e a realidade vivida nos rincões do país.
A decisão, conduzida pelo promotor Antônio Alceste Callil de Castro, foi acatada sem resistência pela Secretaria de Estado de Educação. E talvez aí esteja o detalhe mais eloquente da história: não houve contestação porque não havia como negar o óbvio. Falta de infraestrutura, ausência de saneamento básico, ausência de água potável – o básico do básico estava ausente.
Durante a reunião, medidas emergenciais foram traçadas às pressas: ventiladores, poço artesiano, banheiros improvisados, transporte escolar. Um esforço de contenção, como se fosse possível manter a dignidade de pé com gambiarras. A Escola Francisco Salustiano, municipal, servirá de abrigo provisório. Mas a pergunta persiste: provisório até quando?
A sede da Escola Limoeiro será reformada. Haverá energia, bomba d’água, parecer técnico e todo o ritual que antecede o retorno às aulas. E no horizonte, uma promessa: uma nova escola modelo até novembro de 2026.
É uma boa notícia. Mas não deixa de ser um paradoxo: para que crianças de Bujari possam aprender o que é cidadania, foi preciso que o próprio Estado fosse lembrado de suas obrigações mais básicas.
Em tempos de promessas grandiloquentes, essa história nos lembra que o Brasil ainda precisa garantir o chão da escola — literalmente. E que há promotores, como Castro, que ainda entendem a gravidade de cada tijolo ausente.


