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Ronaldo Nóbrega

João Caldas leva DC à nova fase no Rio

Ronaldo Nóbrega  -   29 de setembro de 2025

O que parecia ser apenas a inauguração de mais uma sede partidária no Rio de Janeiro revelou-se um movimento estratégico. A Democracia Cristã (DC-RJ) abriu as portas de seu novo endereço com discursos de união, mas por trás do protocolo está o objetivo de reposicionar o partido no xadrez político nacional.

À frente desse esforço está João Caldas, advogado, político alagoano, ex-deputado estadual e federal por três mandatos, que assumiu este ano a presidência nacional da legenda. Ele percebe o cansaço do eleitorado diante da polarização que domina o país. Seu discurso busca transformar o DC em alternativa, repetindo um padrão histórico em que partidos menores ocuparam o espaço deixado pelo esgotamento de disputas binárias. O exemplo clássico é o MDB dos anos 1980, que se tornou catalisador de uma transição política.

A presença do prefeito Eduardo Paes deu peso ao evento e reforçou a imagem de diálogo que João Caldas deseja imprimir à direção nacional do DC. Porém, a política não se resume a gestos públicos. Nos bastidores, o movimento concreto veio de Renato Cozzolino, prefeito de Magé, que se colocou como pré-candidato ao Governo do Estado em 2026 pelo DC. Para sustentar esse projeto, seu primo Mauro Cozzolino assumiu o diretório estadual.

Esse pragmatismo é central. A política brasileira está cheia de exemplos de siglas que se perderam entre a retórica da moderação e a realidade das urnas. O PSDB, que durante anos se apresentou como força de equilíbrio, hoje está reduzido a fragmentos. 

O Rio de Janeiro, nesse cenário, passa a ser vitrine. Se a Democracia Cristã conseguir se consolidar e lançar uma candidatura majoritária competitiva, mostrará que ainda há espaço para legendas fora do eixo tradicional. 

redacao@colunapolitica.com.br

Ronaldo Nóbrega é jornalista e memorialista, com quase três décadas de atuação na imprensa e na análise institucional. Aos 16 anos, emancipou-se para ingressar no mercado de comunicação, iniciando sua trajetória no jornal A Hora, no Nordeste. Em Brasília, atuou como consulente no Tribunal Superior Eleitoral por 12 anos. Em 2005, teve papel de destaque na Consulta nº 1.185, que contestou a Regra da Verticalização e resultou na Emenda Constitucional nº 52/2006, marco que consolidou a autonomia partidária no Brasil.