Foi num domingo (8.junho.2025) — esse dia ambíguo entre o repouso da política e sua insônia — que os presidentes da Câmara e do Senado encontraram o ministro da Fazenda. A pauta era técnica, mas o que se esgueirava pela sala era essencialmente simbólico: o barulho provocado pelo silêncio do governo.
Hugo Motta e Davi Alcolumbre não bateram na mesa. Não era necessário. Às vezes, a elegância da crítica dói mais do que a bronca direta. O IOF subiu sem que o Congresso fosse avisado. Um decreto seco, publicado em maio, como se a máquina do Estado tivesse autonomia para ignorar seus próprios condutores.
Na reunião, disseram o óbvio — e o essencial: não se governa sozinho. E não há algoritmo de arrecadação que substitua o ritual da política, o aceno, o aviso, o “bom dia, estamos pensando nisso”. Haddad ouviu, talvez mais do que respondeu. Porque, nesse tipo de encontro, o que se cobra não é apenas um novo decreto — é uma nova escuta.
Lula, que anda afinado com os ventos do Congresso, já havia admitido o tropeço: “Não se pode tomar decisões sem conversar”. Um comentário que, vindo dele, ressoa como confissão e advertência. Ao mesmo tempo.
Pedro Paulo, como quem joga uma pedra em lago calmo, lembrou que a conta não fecha: só se fala em arrecadar mais, cortar nunca entra na conversa. É o velho vício da máquina pública: aperta-se o cidadão comum enquanto os vazamentos no casco permanecem intactos.
Agora, o governo desenha alternativas. Vai tributar as bets, os fundos, talvez as certezas. Mas o estrago já está feito — não no bolso apenas, mas na relação.
O episódio do IOF revela algo maior do que uma falha de comunicação. É a velha disputa entre tecnocracia e política, entre Excel e plenário. O perigo está em esquecer que decretos são ferramentas, mas a República é diálogo. E que, quando os homens que ocupam os três poderes da República precisam sentar para redescobrir o óbvio, é sinal de que o ruído já começou a vencer o sinal.

